São Fulgêncio de Ruspas (467-532)
Bispo no Norte de África
Homilia 1, sobre os servos do Senhor
«O Senhor disse, querendo mostrar os deveres especiais dos servos que pôs à cabeça do seu povo: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado.» Quem é este senhor da casa? Cristo, sem qualquer dúvida, uma vez que disse aos seus discípulos: «Vós chamais-Me “Mestre” e “Senhor”, e dizeis bem, porque o sou» (Jo 13,13). E que família é essa? É, evidentemente, a que o próprio Senhor resgatou. […] Essa família santa é a Igreja Católica, que se espalha pelo mundo inteiro devido à sua grande fecundidade, e se gloria de ter sido redimida pelo resgate do sangue do seu Senhor. Com Ele próprio disse: «O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos» (Mc 10,45). Ele é também o bom pastor que «deu a vida pelas suas ovelhas» (Jo 10,11). […]
Mas quem é esse administrador que deve ser, ao mesmo tempo, fiel e sensato? Responde o apóstolo Paulo, quando diz, a propósito de si próprio e dos seus companheiros: «Considerai-nos, pois, servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que se requer dos administradores é que sejam fiéis» (1Cor 4,1-2). Mas nenhum de nós deve pensar que os apóstolos foram os únicos a receber o cargo de administradores […]; os bispos também são administradores, como diz Paulo: «Porque é preciso que o bispo, como administrador de Deus, seja irrepreensível» (Tit 1,7). Nós, os bispos, somos, portanto, servos do Senhor da casa, somos administradores do Senhor, recebemos a medida de trigo para vos distribuir.».