São Bernardo (1091-1153)
Monge Cisterciense, Doutor da Igreja
«Na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem»
É justo, irmãos, celebrar a vinda do Senhor com a máxima devoção possível, tanto o seu conforto nos deleita […] e tanto o seu amor nos abrasa. Mas não penseis apenas na sua primeira vinda, quando Ele veio «buscar e salvar o que estava perdido» (Lc 19,10); pensai também neste outro advento, quando Ele vier para nos levar consigo. Gostaria de vos ver constantemente ocupados a meditar nesses dois adventos, […] repousando entre estes dois abrigos, porque estes são os dois braços do Esposo nos quais repousava a Esposa do Cântico dos Cânticos: «a sua mão esquerda descansa sobre a minha cabeça, e a sua direita abraça-me» (2,6). […]
Mas há uma terceira vinda entre as duas que mencionei, e os que a conhecem podem descansar para seu deleite. As outras duas são visíveis; esta não o é. Na primeira, o Senhor «apareceu sobre a Terra, onde permanece entre os homens» (Bar 3,38) […]; na última, «toda a criatura verá a salvação de Deus» (Lc 3,6; Is 40,5). […] A do meio é secreta: é aquela em que só os eleitos veem o Salvador dentro de si próprios, e em que a sua alma é salva.
Na sua primeira vinda, Cristo veio na nossa carne e na nossa fraqueza; na sua vinda intermédia, vem em Espírito e poder; na sua última vinda, virá na sua glória e majestade. Mas é pela força das virtudes que chegamos à glória, como está escrito: «O Senhor dos Exércitos, Ele é o Rei da glória» (Sl 23,10); e no mesmo livro: «Para ver o vosso poder e a vossa glória» (62,3). Portanto, a segunda vinda é como o caminho que leva da primeira à última. Na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; na sua vinda intermédia, é nosso repouso e nossa consolação.