São Paulo VI (1897-1978)
Papa de 1963 a 1978
«Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus»
A alegria de estar no amor de Deus começa já aqui em baixo. É a alegria do Reino de Deus. Mas ela é concedida num caminho escarpado, que exige uma confiança total no Pai e no Filho e uma preferência dada ao Reino. A mensagem de Jesus promete sobretudo a alegria, esta alegria exigente; não é verdade que começa pelas bem-aventuranças? «Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.» Para arrancar do coração do homem o pecado da presunção e manifestar ao Pai uma total obediência filial, o próprio Cristo aceita misteriosamente morrer pela mão dos ímpios, morrer numa cruz. Mas […] doravante, Jesus vive para sempre na glória do Pai e foi por isso que os discípulos sentiram uma alegria imensa na tarde de Páscoa (Lc 24,41). Acontece que, aqui em baixo, a alegria do Reino realizado só pode brotar da celebração conjunta da morte e da ressurreição do Senhor. É o paradoxo da condição cristã, que singularmente clarifica o paradoxo da condição humana: nem a provação nem o sofrimento são eliminados deste mundo, mas tomam um sentido novo na certeza de participar na redenção operada pelo Senhor e de partilhar da sua glória. É por isso que o cristão, submetido às dificuldades da existência comum, não está no entanto reduzido a procurar o seu caminho tateando, nem a ver na morte o fim das suas esperanças. Com efeito, e como anunciava o profeta, «o povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz e sobre os habitantes do país sombrio uma luz resplandeceu. Multiplicaste o seu júbilo, fizeste brotar a sua alegria» (Is 9,1-2).