Paróquia Nossa Senhora
da Conceição

Costa da Caparica

180331090711_1-domingo-da-pascoa-anob_2

O lugar teológico da Ressurreição de Cristo

Leia este artigo e carregue no link, abaixo, para aceder ao documento

«O lugar teológico da Ressurreio de Cristo» 

A morte de Jesus

Para nós, a morte é uma fenômeno biológico e instantâneo. Uma vez sobrevinda, ocorre um “não se sabe o quê”, de ordem metafísica ou religiosa: seja o nada, seja a passagem da alma para a imortalidade, seja a Ressurreição (imediata ou protelada). Em qualquer caso, a morte, mesmo que haja passagem para outra coisa, é num instante: nesse instante (in ictu oculi) quando cessamos de viver. É a mesma leitura que fazemos espontaneamente a respeito de Jesus: é na Cruz que Jesus morre, no momento em que entrega o espírito, atestado pelo gesto legal e comprovador do centurião de guarda. Toda iconografia ocidental identifica o momento da morte ao da Cruz. Mas para os hebreus (como aliás para os gregos), a morte é outra coisa. Ela tem um desenrolar temporal. Morrer é seguramente dar o último suspiro, mas é também (e principalmente?) entrar (e ficar) na morada dos mortos (o Xeol, o Hades15). A morte não é o drama de um instante, ela é um acontecimento que consiste, se assim se pode exprimir, em “viver a vida dos mortos”16. Decerto, bem se sabe, a carne que se decompõe agora no túmulo um dia expirou de velhice, pereceu afogada ou queimada, sucumbiu à doença. Mas a morte não pára nisso nem nesses fenômenos imediatos: o ser que somos não desaparece, ele volta na morada da morte a viver uma vida, mais ou menos sinistra e miserável, como “almas penadas”, num país sem retorno e ausente de significação. “[Senhor,] que sentido há [quae utilitas] em meu sangue [em minha vida], se é para descer à fossa [dum descendo in corruptionem]17? O pó pode dar-lhe graças e fazer confissão de tua verdade?” (Sl 29,10; cf. Sl 113,17). De fato, certas tradições não ignoram a esperança que possa haver “um dia” algum salvamento (ver 1Sm 2,6; Dt 32,39; Is 28,18; Os 6,2 e 13,14; Jo 14,12; 19,25-27; Sl 30,2-4; Sb 16,13; 2Mc e Dn), mas tal não é a idéia dominante. Em todo caso, essas esperanças não tiram nada à idéia de que a morte é longa (até eterna) e que ela consiste em viver no Inferno e aí morar prisioneiro da morte…..

 

[Extrato do texto do livro «O Cristo», de Adolphe Gesché, São Paulo, Paulinas, 2004, pp.
146-172, coleção Deus para pensar, v. 6]